sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Oliveira em Serralves


Só espero chegar aos 70 com a lucidez que este senhor apresenta a poucos meses de fazer 100 anos - festeja a data a 12 de Dezembro. Está um bocadinho «mouco», é verdade, mas ainda vale a pena ouvi-lo e, quiçá, vê-lo em Serralves.


Só a morte é perfeita

A obra completa de Manoel de Oliveira vai estar patente no Museu de Serralves, de 18 de Setembro a 9 de Novembro, no que se apresenta como o mais completo ciclo do cineasta realizado, até ao momento, na cidade do Porto.
A mostra, designada «Manoel de Oliveira: ver e rever todos os filmes (e mais alguns ainda...)», foi ontem apresentada numa conferência de Imprensa, que contou com a presença do realizador português.
'Esta será uma exibição extraordinária, como nunca vi em lugar nenhum do Mundo. É notável que os meus filmes sejam apresentados em companhia de outros de colegas portugueses e estrangeiros', começou por dizer Manoel de Oliveira.
O ciclo, acrescentou, 'dá uma ideia mais completa e profunda do que é o cinema no Mundo e do que é que isso representa', apesar de 'ser impensável definir o que é o cinema ou o que é a vida',
'No cinema repousa toda uma vida. Por isso, é impensável definir qualquer uma das duas coisas', notou Manoel de Oliveira, para quem 'não há consagração maior do que a compreensão', do seu trabalho.
'O sucesso depende de três coisas: do realizador, de quem o promove e, sobretudo, do espectador, sem o qual não há cinema. Um filme nunca está realizado até que o espectador o veja e o estude', explicou.
Convicto de que 'se alguém chegasse à perfeição faria só um livro ou só um filme', Manoel de Oliveira não encontra a perfeição na totalidade das películas que realizou: 'Não vejo perfeição na minha ou em qualquer outra obra. Toda a obra cinematográfica está longe disso. Só a morte é perfeita',
Por isso, concluiu, nunca se preocupou com críticas que não fossem construtivas: 'Quando dizem mal dos meus filmes, de algo que consideram imperfeito, isso dói-me porque não posso emendar. Mas quando dizem mal sem justificação, passo à frente'.

Contribuir para o renascer dos cinéfilos

Contribuir para 'o renascer de uma tribo extinta na cidade do Porto: os cinéfilos', é um dos objectivos que o director do Museu de Serralves, João Fernandes, espera ver cumprido durante o ciclo dedicado a Manoel de Oliveira.
A apresentação, na íntegra, da 'filmografia de Manoel de Oliveira conhecida até ao momento', constitui, para João Fernandes 'um regresso relevante do cinema ao Porto, onde, nos últimos tempos, têm sido raríssimas as possibilidades de visionamento de filmes relevantes da história do cinema',
Representa, assim, 'um momento fundamental para formação de públicos na cidade para outras programações futuras'.
Mais de 70 filmes, dos quais meia centena realizados por Manoel de Oliveira, e os restantes por outros cineastas, poderão ser vistos ao longo de dezenas de sessões distribuídas pelos dois meses.
A sessão de abertura realiza-se no próximo dia 18, às 21h30, e contará com as presenças de Manoel de Oliveira e de Paulo Rocha. Nessa sessão serão projectados os filmes «Um dia na vida de Manoel de Oliveira» (2001), de Gilles Jacob, director do Festival de Cannes, e «Manoel de Oliveira, o Arquitecto» (1993), de Paulo Rocha.
O primeiro será uma estreia absoluta em Portugal e o segundo será uma estreia na cidade do Porto, sendo apresentado pela segunda vez na sua versão integral em Portugal.

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