quarta-feira, 5 de novembro de 2008

À conversa com o Embaixador

O embaixador de Israel em Portugal, Aaron Ram, termina o mandato daqui a dois meses, deixando o País após quatro anos, não sem antes encetar negociações para a ligação aérea directa entre Lisboa e Tel Aviv.
“Em Dezembro vamos começar a negociar a possibilidade de se estabelecer a ligação aérea directa entre os dois países, o que significaria a redução de uma viagem de 10 horas para cerca de metade do tempo”, apontou Aaron Ram, seguro de que esta medida implicará “visitas em número muito superior entre os dois países, fomentando o turismo”.
O embaixador considerou que esta será mais uma medida importante para estreitar relações entre Israel e Portugal, que, neste momento, assegura, já são as melhores.
“As relações entre Portugal e Israel são muito boas e isso também já foi dito abertamente por líderes dos dois países. Saio daqui a dois meses da Embaixada de Israel, depois de quatro anos em Portugal, conheci muita gente, em todas as áreas, e sinto que existe muita amizade dos portugueses para com Israel”, sublinhou Aaron Ram.
Há ainda, no entender do embaixador, muito a fazer noutros campos, “como nas áreas da economia, ciência e tecnologia”: “Há um progresso. Por exemplo, nos primeiros seis meses deste ano, o volume de trocas entre Portugal e Israel cresceu 35 por cento. Penso, porém, que podemos fazer mais. Os campos de interesse mútuo são muito promissores. Daí que sejamos amigos com muitas possibilidades que podem e devem ser exploradas”.

Instabilidade política continua

Israel vive actualmente um quadro de forte instabilidade política. Ehud Olmert, até agora primeiro-ministro, foi substituído na chefia do partido Likud por Tzipi Livni, que é ministra dos Negócios Estrangeiros. Falhada uma aliança para formar Governo – o partido ortodoxo Shas rejeitou as condições para uma coligação estável –, Tzipi Livni apela, por isso, à realização de eleições antecipadas.
O embaixador Aaron Ram afirmou que, “nos últimos dois anos e meio, Israel teve um Governo sólido”, mas pelas actuais circunstâncias as eleições, que deviam ter lugar apenas no final de 2009, deverão ser realizadas em Fevereiro.
“Para se formar Governo em Israel é preciso fazer coligações entre mais de dois partidos. Tzipi Livni encontrou algumas dificuldades para formar Governo, e, por isso, as eleições devem ser em Fevereiro. A não ser que, e digo isto com muitas cautelas, consigam formar Governo à última hora. Neste momento, parece que caminhamos para eleições”, contou Aaron Ram.
O embaixador recusou, porém, um cenário de crise no país, sublinhando que será apenas um normal “processo eleitoral”.
“O Governo é a plataforma para o povo. Todos os governos em Israel querem Paz. Os partidos têm diferentes pontos de vista, mas todos pretendem o mesmo. Sabemos que a Paz requer concessões e acredito que vamos encontrar o meio-termo”, referiu.

Comunidade Internacional tem de agir

Nas últimas semanas foi noticiado que o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad – o homem que disse que era necessário aniquilar Israel –, poderá sair de cena e não renovar o mandato. Aaron Ram não acredita, contudo, que algo vá mudar no que respeita as relações entre Irão e Israel.
“A ideologia do regime iraniano será a mesma. Gostava que houvesse uma mudança, espero e acredito que possa haver. Mas agora, e nos últimos anos, todos os líderes do Irão estão contra Israel. O regime de Ahmadinejad está a fazer coisas terríveis, como a negar o Holocausto, mas querem criar outro agora! É isto que os líderes iranianos defendem. Houve, porém, boas relações entre os dois países, e não vejo por que não podem regressar no futuro”, sublinhou.
O embaixador de Israel não se coíbiu, contudo, de definir o Irão como “o mal no seio da comunidade internacional”.
“A comunidade internacional decidiu que o Irão não cumpria as suas obrigações com a IAEA (Agência Internacional de Energia Atómica), o Comité de Segurança das Nações Unidas decidiu que ia impor sanções ao Irão. Mas porquê? Porque o Irão é um país poderoso e não aceita as exigências da comunidade internacional para parar o programa nuclear. Estão a ameaçar toda a gente com isso. Isto é algo a que a comunidade internacional tem de dar uma boa resposta”, desafiou.
Questionado acerca da possibilidade de uma intervenção militar no Irão e das consequências que tal acção teria para o resto do Mundo, Aaron Ram foi peremptório: “Não sei qual a resposta”.
“Penso que temos de esgotar todas as possibilidades, e há possibilidades que ainda não esgotámos. Se falamos em sanções, têm de ser muito rigorosas. No Irão, neste momento, as pessoas e organizações não estão satisfeitas com o que se passa a nível de sanções. Há muita insatisfação pela forma como o governo está a agir. Pela reacção dos iranianos, o governo terá de mudar necessariamente e espero que assim seja rapidamente”, acrescentou.
Certo é, para o embaixador, que a “comunidade internacional tem de pôr muita mais pressão no Irão, pois é inconcebível que um país ameace outro claramente”.
“Já imaginaram como seria se ameaçasse um país europeu? Dizendo que é um país ilegal, que é preciso destruí-lo, usando, pelo meio, linguagem anti-semítica, que se ouvia há 60 ou 70 anos? Como pode ser? É aqui que o Irão tem de mudar. E este será um ponto-chave para a política internacional e para o Médio Oriente”, concluiu.

Crise económica mundial
Israel também está a ser afectado

Israel “não é um país isolado”. Por isso, de acordo com o embaixador Aaron Ram, a crise económica mundial está a afectar o país, mas de uma forma menos directa, tal como acontece com Portugal. “Fazemos parte de uma comunidade internacional. As bolsas caíram em todo o lado e causou crise nas empresas. Israel não foi tão afectado como outros países, mas também está a ser. É, contudo, demasiado cedo para dizer como vai ser afectado. Espero que as medidas ajudem a acalmar o mercado, pois a maioria das empresas são boas. Os Governos estão a ajudar os bancos e esperemos que os danos não sejam muito agudos. Se todos conduzirem a situação como é preciso, as coisas vão melhorar. Vai ser preciso tempo, mas esperemos que as consequências não sejam muito graves e que possamos recuperar rapidamente”, assegurou o embaixador.

Eleições norte-americanas
Valores democratas e republicanos são os mesmos

O novo presidente dos Estados Unidos da América – Barack Obama ou John McCain – vai ser eleito amanhã, depois de uma campanha intensa que durou vários meses. Obama tem alguma vantagem e o candidato já fez saber que é necessário defender a integridade de Israel. O embaixador Aaron Ram manteve, em relação a este tema, uma postura diplomática. “Os Estados Unidos da América são muito importantes para a estabilidade do Mundo. É um grande país, muito forte e influente. Quem quer que seja o presidente, suponho que vai continuar, à sua maneira, a acalmar as coisas, a contribuir para um Mundo melhor”, apontou, acrescentando: “A ideologia americana tem fortes valores democráticos e quer uma maior democratização no Mundo. Esses valores são os mesmos quer esteja um democrata (Obama) ou um republicano (McCain) no poder. Os meios podem ser um pouco diferentes, mas os valores são os mesmos. Israel, nesse ponto de vista, é um país democrático no médio oriente. Nesse ponto de vista, qualquer presidente será parte desta sociedade e estou seguro que continuará a contribuir para um mundo melhor, para a Paz, e para tentar acalmar os problemas no médio oriente”.

Portugal
Exemplo de liberdade religiosa

Aaron Ram não tem dúvidas de que Portugal é um exemplo no que respeita a liberdade religiosa. “É uma democracia e, tal como em Israel, as pessoas são livres de escolher a religião que querem abraçar. Encontrei aqui gente de todas as religiões, muitas pessoas que diziam ter sangue judeu e antepassados judeus, e fiquei com a certeza de que este é um País livre e todos podem expressar-se como quiserem”.

Futuro sorridente
Vamos encontrar soluções para a Paz

Os problemas no Médio Oriente persistem e são graves. Neste momento, Israel é um Estado que, segundo Aaron Ram, tem de lidar com vários problemas que estão a impedir a Paz. “Se falarmos dos assuntos principais, não só Israel e Palestina, mas no Médio Oriente, há extremistas e moderados. Os extremistas querem controlar, querem impor-se na maioria, e não se importam de matar e destruir. Temos muitas organizações terroristas na região. Duas delas já dividiram nações. O Hezbollah, que dividiu o Líbano, é uma organização terrorista que quer destruir Israel, controlar e impor as suas doutrinas e ideologias extremas no Líbano. Já os Hamas dividiram a Palestina e controlam agora a faixa de Gaza. Há algum de comum a estes dois grupos, ambos pensam que, no futuro, a ideologia que defendem vai controlar o Mundo. E há ainda o Irão, que é uma república religiosa, que tem uma ideologia muito clara, e disse vezes sem conta que quer destruir Israel”, lembrou o embaixador, confiante, porém, que os problemas que afectam o Médio Oriente “vão acabar”. “Tenho a certeza que vamos encontrar soluções para a Paz e viver em segurança uns com os outros”, apontou, sublinhando que “as conversações entre Israel e a Palestina continuam e são boas”.

Foto: I.P./D.R.

2 comentários:

DomingonoMundo disse...

Não sei. Tenho dificuldade em ouvir estas mensagens de "futuros sorridentes" e de progressos nas conversações de paz, quando as notícias (particularmente as últimas) desmentem qualquer tipo de quebra de animosidade.

PeepingJane disse...

Concordo perfeitamente... É incrível como as coisas mudam em pouco mais de uma semana. Mas a verdade é que este senhor fez jus àquilo que a profissão o obriga: foi, em todas as respostas, um verdadeiro DIPLOMATA. Nada mais, nada menos!